Estava um boneco de neve, na Serra da Estrela, à espera nem ele sabia do quê. Sair donde estava não podia, porque não lhe tinham feito as pernas. E tanto que gostava de conhecer outras paisagens, conquistar mais espaço, alongar a sombra? Só se rebolasse. Deu um jeito ao corpo e descolou de um lado. Deu mais um jeito e descolou do outro. Balançou. Com um novo impulso, rebolou encosta abaixo. - Deixem passar! Deixem passar! - gritava o boneco para os esquiadores que, penosamente, vinham a subir. Se calhasse ir de encontro a um, derrubava-o. Até podia aleijá-lo. - Quero lá saber! - gritava o boneco, cada vez mais forte, cada vez maior, cada vez mais cheio de si. Um brutamontes. Já não era um boneco, mas uma bola de neve. Dantes, tão simpático. Agora tão arrogante. - Uma avalanche! - gritaram, no vale. - Vem aí uma avalanche de neve! De roldão por ali abaixo, destruindo tudo por onde passava, a bola de neve era uma ameaça. Vá lá que acabou desfeita de encontro a um paredão. - Passou o perigo - suspiraram de alívio as pessoas, que andavam a brincar na neve. Algumas entretinham-se a fazer bonecos de neve.
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