Editorial

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quarta-feira, 24 de março de 2010

O boné do Jaquim

O Jaquim foi comprar um boné. O que usava já tinha perdido a cor de tanto sol e tanta chuva que apanhara. O Jaquim trabalhava ao ar livre, nas obras, é preciso que se saiba. - Quero um boné com pala - pediu o Jaquim, quando chegou à loja. O caixeiro da loja terá pensado que todos os bonés têm pala. Sem pala, só boinas. Ou barretes. Mas não comentou. - Que tal um destes azuis, acabados de chegar da fábrica? - perguntou o caixeiro. O Jaquim provou, viu-se ao espelho e não gostou. - E este, com quadradinhos castanhos? O Jaquim provou, viu-se ao espelho e não gostou. - E este verde escuro? O Jaquim provou, viu-se ao espelho e não gostou - E este às risquinhas encarnadas? O Jaquim provou, viu-se ao espelho e não gostou. O caixeiro começava a achar que aquele freguês não era fácil de contentar. Sobre o balcão, um monte de bonés abandonados... O Jaquim já se dispunha a sair em cabelo, muito desconsolado, se não tivesse visto, no meio dos bonés rejeitados, um que lhe chamou a atenção. Provou-o, viu-se ao espelho e gostou: - Levo este. - Mas é o que o senhor trazia na cabeça, quando entrou na loja - disse-lhe o desolado caixeiro. - Ai, é? Levo na mesma - e saiu da loja, muito satisfeito, com um boné ou cinzento deslavado ou castanho ruço ou antes assim-assim.

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